Tiradentes (MG)
- minhamalaroxa
- 2 de dez. de 2016
- 10 min de leitura

Nossa viagem à Tiradentes começou com a ideia do meu sogro número 2 (rs) que queria muito conhecer a cidade e atualmente mora em Itaipava, Petrópolis, também aqui no Rio. Então pensamos, poxa tão pertinho e a casa deles já fica no caminho, então vamos nessa!
Saímos em uma sexta à noite e dormimos em Itaipava. De manhã pegamos a estrada rumo à Tiradentes – MG. Nas malas levamos apenas sapatos confortáveis (como recomendamos para qualquer cidade histórica de Minas, pois as ruas são de pedra e muitas têm incontáveis ladeiras), além de muita vontade de conhecer tudo que aquela cidadezinha com tanta história poderia nos oferecer.
Como chegar
Através da BR-040, a mesma estrada que leva do Rio de Janeiro até Petrópolis, se chega até Barbacena e então, pela BR-265 até Tiradentes. E aí já começa a história, pois em diversos trechos passamos pelo caminho da antiga Estrada Real (que nos leva pela rota dos mineradores que conduzia do litoral do Rio de Janeiro até o interior, em especial, Minas Gerais) e também pelo Circuito Trilha dos Inconfidentes, constituído por 20 municípios também de Minas. Daqui até lá são 4 pedágios (se contarmos com a Linha Amarela, são cinco), um de R$4,80 e três pedágios de R$12,40, então prepare o bolso. Existem também certamente empresas de ônibus que levam a Tiradentes, pois a rodoviária na entrada da cidade estava lotada de ônibus de turismo.

Sobre Tiradentes
Fundada em 1702, o antigo Arraial Velho de Santo Antônio da Ponta do Morro, antiga Vila de São José do Rio das Mortes e São João del Rei, cresceu devido à grande quantidade de ouro encontrado na região. Está localizada a 190 km de Belo Horizonte e 330 km do Rio de Janeiro e tem apenas 7 mil habitantes. No fim do século XIX os republicanos redescobrem a esquecida terra de Joaquim José da Silva Xavier, o "Tiradentes" e fazem uma visita cívica à casa do vigário Toledo, onde se tramou a Inconfidência Mineira. Mas foi o inflamado Silva Jardim que, de passagem por São José, sugere em seu discurso que o nome da cidade fosse trocado para o do herói, em lugar de um rei português. Com a Proclamação da República, por decreto do governo provisório do estado, datado de 06/12/1889, recebe a cidade o atual nome "Cidade e Município de Tiradentes". Após longos anos de esquecimento, o conjunto arquitetônico da cidade foi tombado pelo então Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), em 20 de abril de 1938, tendo sido, por isso, conservado quase intacto. É famosa pelo casario antigo, pelas lojas de doces e igrejas históricas.

E o Tiradentes? Um pouco de história do Brasil
Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, batizado em 12/11/ 1746, foi um dentista, tropeiro, minerador, comerciante, militar e ativista político que atuou no Brasil, mais especificamente nas capitanias de Minas Gerais e Rio de Janeiro. No Brasil, é reconhecido como mártir da Inconfidência Mineira, patrono cívico do Brasil, patrono também das Polícias Militares e Polícias Civis dos Estados, sendo considerado herói nacional.O dia de sua execução, 21 de abril, é feriado nacional. A cidade mineira de Tiradentes, antiga Vila de São José do Rio das Mortes, foi renomeada em sua homenagem. Seu nome está inscrito no Livro dos Heróis da Pátria, desde 21/04/92, apesar de sua sentença ter sido cumprida na cidade do Rio de Janeiro, em uma procissão pelas ruas do centro da cidade e leitura que durou mais de 18 horas, como forma de intimidar a população para que não houvesse novas revoltas. Executado e esquartejado, com seu sangue se lavrou a certidão de que estava cumprida a sentença, tendo sido declarados infames a sua memória e os seus descendentes. Sua cabeça foi erguida em um poste em Vila Rica e os demais restos mortais foram distribuídos ao longo do Caminho Novo: Santana de Cebolas (atual Inconfidência, distrito de Paraíba do Sul), Varginha do Lourenço, Barbacena e Queluz (antiga Carijós, atual Conselheiro Lafaiete), lugares onde fizera seus discursos revolucionários. Arrasaram a casa em que morava, jogando-se sal ao terreno para que nada lá germinasse. (fonte: Wikipedia)
Pousada
Ficamos hospedados na Pousada Hospedaria da Villa, que fica a alguns metros da rua da Câmara, que leva até a Igreja Matriz. Para chegar até o centro histórico é preciso pegar o carro, mas a distância da pousada ao centro garante o sossego das instalações, em meio à mata, além de ter a propriedade diversos ambientes, estacionamento, piscina e uma capelinha.Fomos recebidos diretamente pelos donos, uma gaúcha e um uruguaio super atenciosos e com muitas histórias pra contar, que também nos deram todas as dicas sobre a região. A pousada tem muitos artigos de museu, equipamentos de telefonia antigos, bombas de gasolina, muito interessantes. O hóspede se sente em uma fazenda antiga, com o café da manhã servido ali numa salinha próxima a recepção que parece a casa dos nossos avós, sabem?!Há quartos standard com ar condicionado, TV de tela plana, secador de cabelos e frigobar e também alguns com lareira ou banheira de hidromassagem. A melhor parte ficou por conta do hospitaleiro Bob, o cachorrinho da raça daschund que adora as pessoas e nos fez companhia à noite enquanto tomávamos um vinho com meus sogros na varanda comum entre nossos quartos.
Bichinho


Quando você disser que vai a Tiradentes, certamente irão lhe indicar a visita a Bichinho. Bichinho fica a 8 km de Tiradentes, aproximadamente 15 minutos de carro, e é muito conhecida pelos ateliês de móveis e artesanato, além dos restaurantes de comida mineira, como o Tempero da Ângela (foto a esquerda) onde fomos almoçar assim que chegamos e a "Casa Torta" (foto da direita), um espaço aberto ao público e bem divertido, onde acontecem oficinas, apresentações teatrais, além de ser um ponto de brincadeiras, de gastronomia e música. Foi idealizado pelos artistas Renato Maia e Lu Gatelli.
O nome oficial do lugarejo é Vitoriano Veloso, graças a um escravo que, após a alforria, tornou-se alfaiate e mais tarde participou da Inconfidência Mineira. Até 1938, o distrito pertencia a Tiradentes, hoje sendo parte de Prados - MG. Na verdade Bichinho é um lugar bastante rústico, que tem dois ou três restaurantes na estrada e mais dois ou três na própria vila.
No caminho há dezenas de lojas de fábrica de móveis e artigos de artesanato e a comida é tipicamente mineira, feita no forno a lenha e panela de barro. No Tempero da Ângela nos servimos diretamente da panela aquecida pelo fogão e são cobrados R$25,00 para comer à vontade. As bebidas são cobradas à parte e o restaurante não aceita cartões, no entanto, se você é amante da legítima comida mineira este é literalmente um prato cheio.
Pra quem curte uma cerveja artesanal e um petisco de boteco, a boa em Bichinho é conhecer o Atelier da Cerveja, um bar bem pequeno de esquina que tem diversos rótulos além da fabricação própria da cerveja Carma. Experimentamos a Pilsen, bem encorpada com 4,3% de teor alcoólico. Fomos servidos pela dona do estabelecimento, que é esta retratada na caricatura do rótulo da cerveja fabricada por seu marido. Quem for ate lá também não pode deixar de provar a cachaça de banana, docinha e mega gelada e curtir uma tarde no barzinho todo decorado. A 7 km do vilarejo de Bichinho, está ainda o Museu do Automóvel, que guarda mais de 60 automóveis, divididos em três setores: americano, europeu e nacional. O museu abre de quarta a domingo das 9h às 18h.
Restaurantes


Tanto à noite como de dia, Tiradentes oferece diversas opções de restaurantes no próprio centro histórico. No Largo das Forras estão alguns deles, que têm mesas na calçada e música ao vivo. Conhecemos o Sapore D´Italia onde comemos uma pizza e petiscos e almoçamos no Butiquim Pizza Bar, este já localizado na badalada rua Direita, onde estão também os mais famosos nomes da gastronomia. É um sobrado que nos surpreendeu com uma área externa na sua parte de trás, que sai pela rua Ministro Gabriel Passos, onde há um estacionamento. Um local agradável e fresco (estava fazendo muito calor em Tiradentes), onde fomos servidos pela própria chef que nos preparou um feijão tropeiro cheio de acompanhamentos (para dois, por R$70,00) e um sorvete artesanal de morango com manjericão (R$7,00).
Lojas de Doces
Mas pra quem é formiguinha que nem eu, o melhor são as lojas de doces caseiros espalhadas pela vila. Claro que as cidades mineiras são conhecidas pelo doce de leite, mas além dele existem doces de compota, queijos para harmonizar e uma fábrica de chocolates da região.
Quem estiver em Tiradentes obrigatoriamente passa pela loja do Chico Doceiro, na rua Francisco P. de Moraes, 74, bem na entrada (ou saída) da cidade. O simpático Chico produz doces no fogão à lenha desde 1965, como cocada, doce de banana, cajuzinho e o tradicional canudinho de doce de leite, que custa apenas 1 real! Ele mesmo estava cozinhando figos na loja quando passamos por lá. A loja funciona de 9h às 18h.
No passeio pelo Largo das Forras encontrei a chocolateria Puro Cacau, de fábrica local e com chocolate vendido a granel e trufas cremosas dignas de regiões famosas pelo chocolate, como Gramado e Campos do Jordão. Comi tão rápido que até esqueci de fotografar.
Existe ainda o doce de leite do Bolota, inventado em 1976 pelo cozinheiro e ainda hoje mantido por sua família, que leva 15 litros de leite e apenas 200g de açúcar, na rua Bias Fortes, 77, que não tivemos tempo de conhecer.
Igrejas

A Igreja Matriz de Santo Antônio é o símbolo da cidade de Tiradentes. Um dos templos do barroco nacional, é considerada a segunda mais rica em ouro do país. Sua construção foi iniciada em 1710 e concluída em 1752. Possui um dos quinze órgãos mais importantes do mundo, trazido de Portugal no ano de 1788 e no adro um relógio de sol feito de pedra sabão em 1785. Sua fachada atual é de 1810, desenhada por Aleijadinho. Fica aberta de 9 às 17h, com entrada de R$5,00 e realiza missas aos sábados às 19h e domingos às 8h. Infelizmente estava fechada quando chegamos lá, quase às 18h, mas também oferece um espetáculo interessante nas noites de sexta às 19h,sábado às 20h30 e domingo às 20h, com som e luz e narrado por Paulo Goulart contando sobre sua história e que custa apenas R$10,00.

Capela de São Francisco de Paula - Bela e singela construção datada do século XVIII, está localizada no alto de um morro onde se tem a melhor vista de toda a cidade, a subida fica bem ao lado da rodoviária de Tiradentes. Possui um cruzeiro instalado em 1718, ano da elevação do arraial à Vila de São José. As pessoas costumam ir até lá no fim da tarde para apreciar o por do sol.
A Capela de Nossa Senhora do Rosário está localizada na rua Direita e foi construída em 1708 e finalizada em 1719 pelos escravos, sendo a mais antiga da cidade. Como eles não podiam frequentar as outras igrejas construíram a sua própria, trabalhando à noite, levando o ouro roubado para decorar a igreja debaixo das unhas e nos cabelos. Foi a que mais despertou nossa curiosidade e que conhecemos o interior, que tem em seu altar dourado imagens de santos negros. Um banho de cultura.
Capela Santíssima Trindade – Construção datada de 1810, substituindo a antiga capela localizada na Ponta do Morro. Seu interior é simples e o local é palco do encontro anual de fiéis que participam do Jubileu da Santíssima Trindade.Capela Nossa Senhora das Mercês – Localizada no Largo das Mercês, esta capela tem estilo rococó e foi construída no século XVIII pela Irmandade dos Pretos Crioulos, nascidos no Brasil. Seu interior é decorado com raríssimas pinturas também em estilo rococó.

A Igreja de São João Evangelista teve sua construção iniciada em 1760 e é pertencente à irmandade dos Homens Pardos, os mulatos, que tem sua própria igreja, assim como os brancos (Matriz) e os negros (Nossa Senhora do Rosário). Os altares laterais são em estilo rococó e chamam atenção as imagens em tamanho natural que compõem a cena do calvário. Está localizada ao lado do Museu de Padre Toledo, numa área onde todo o comércio homenageia este antigo vigário que teve realizada em sua casa a primeira reunião da Inconfidência Mineira.

Capela Bom Jesus da Pobreza – Está localizada no Largo das Forras e foi inaugurada em 1750, tendo em seu interior uma imagem de Cristo agonizante.

Há ainda os Passos, que são pequenas capelas, construídas a partir de 1719 e que representam, cada uma delas, as cenas finais da vida de Cristo no caminho do calvário. Elas estão por toda a cidade, mas estavam todas fechadas, pois só abrem na Quaresma, para as procissões das Dores e dos Passos.
Outros Pontos Turísticos

Câmara Municipal - Localizada próxima à Matriz, na ladeira que é caminho para esta, construída em meados do século XVIII, servia para abrigar a administração pública no período colonial e imperial. A Câmara Municipal de Tiradentes foi construída longe da cadeia pública, o que é incomum na maioria das cidades do século XVIII. Na nossa visita a Tiradentes a rua da Câmara estava em obras para refazer a ladeira de pedras que leva até a igreja Matriz.

Chafariz de São José - Construído em 1749 pela Câmara Municipal para suprir o abastecimento de água potável da vila através das bicas frontais e lavagem de roupas na lateral direita e bebedouro de animais na lateral esquerda. Sua fachada guarda uma imagem rara de São José de Botas e em suas águas hoje existem peixes. Está localizado na rua do Chafariz, continuação da rua da Câmara, que leva até a igreja Matriz.
Museu Padre Toledo – O museu se encontra em um casarão do século XVIII, onde residiu o padre e vigário Carlos Correia de Toledo e Melo e onde ocorreu a primeira reunião da Inconfidência Mineira. Conta com rico mobiliário e obras de arte e é considerada a casa que mais concentra pinturas no teto em Minas Gerais.
E, ainda na rua Direita está o Museu de Sant'Ana, que abriga 291 imagens de Sant'Ana, avó de Jesus, datadas dos séculos XVII e XIX. O museu fica dentro do prédio de 1730 onde se situava a antiga Cadeia Publica da cidade. Atingida por um grande incêndio no ano de 1829, a Cadeia da Vila de São João del Rei, hoje Tiradentes, foi restaurada em 1835 e é um exemplo de arquitetura excepcional, pois foi edificada separada da Câmara, rompendo com o padrão usual à época do regime colonial e conserva em sua estrutura portais e grades originais, além de um calabouço que pode ser visto através de um vidro. O museu funciona de segunda a quarta, das 10h às 19h e o ingresso custa R$5,00 (estudantes com comprovante não pagam).
Passeios

No Largo das Forras existem charretes puxadas por cavalos que levam o turista por um verdadeiro city tour por Tiradentes. É uma boa atração, principalmente para quem está com crianças, para conhecer rapidamente todo o centro histórico, passando pela Matriz, pois as coloridas charretes têm vários temas, como o de princesas.
Trem Maria Fumaça – Inaugurado em 1881 por Dom Pedro II, o trenzinho liga as cidades de Tiradentes e São João del Rei por trilhos com bitola de 76cm (única no mundo). Em um trajeto de 12km, realizado em aproximadamente 40 minutos, é um dos passeios mais procurados da região. Uma boa dica é se sentar nos bancos do mesmo lado da plataforma de embarque, de onde se tem a melhor vista do passeio. O valor é de R$56,00 ida e volta e R$40,00 só a ida (ingresso inteira). Horários saídas Tiradentes : sextas e sábados 13h e 17h, domingos 11h e 14h; saídas São João del Rei sextas e sábados 10h e 15h, domingos 10h e 13h.
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