Cidade histórica de Paraty e seus encantos
Chegamos a Paraty numa terça à tarde, 14 de agosto. Temos um carinho especial por este lugar, pois foi onde, exatamente há 8 anos atrás, aconteceu o nosso (re)encontro. Por isso, decidimos ir até lá comemorar esta data, levando nosso filhote e vocês, também, na nossa mala.
Fundada em 1667, em torno da Igreja Matriz de Nossa Senhora dos Remédios, sua padroeira, Paraty é hoje Patrimônio Histórico Nacional, tombado pelo IPHAN, tendo seu centro histórico considerado pela UNESCO como o conjunto arquitetônico colonial mais harmonioso. Teve grande importância econômica devido aos engenhos de cana de açúcar, hoje sinônimo de boa aguardente, além de ter sido porto por onde se escoavam das Minas Gerais o ouro e pedras preciosas que embarcavam para Portugal. Após a abertura da estrada Paraty-Cunha e, principalmente, da construção da rodovia Rio-Santos, na década de 70, tornou-se pólo de turismo devido ao bom estado de conservação e riqueza de belezas naturais.
Passear pelas ruas de Paraty é como voltar no tempo. Suas ruas preservadas por correntes, por onde não podem passar carros, conservam ainda o calçamento “pé de moleque” (colocado à mão por crianças escravas), datado de 1820. Tudo isso nos traz esse apaixonante encanto colonial, aliado a boa comida e atrações culturais de qualidade.
A família imperial brasileira tem também uma residência em Paraty, o sobrado da foto, localizado na rua Fresca, beira mar, que pertence à Dom João de Orleans e Bragança, fotógrafo e proprietário da Pousada do Príncipe e sua esposa Claudia Melli. A propriedade, datada de 1850, foi comprada por seu pai e hoje é endereço de encontros com grandes escritores durante a Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP). Vejam que linda a palmeira imperial que se destaca à direita.
Paraty tem hoje 4 igrejas católicas, 500 casarões, 33 quadras, 16 ruas, aproximadamente 45 mil habitantes e também muita história que vamos contar a seguir.
Igreja de Santa Rita
Esta é a Igreja de Santa Rita de Cássia, cartão postal de Paraty, erguida pela irmandade dos pardos libertos em 30 de junho de 1722. No século XVIII, no Brasil colônia, as igrejas atendiam às classes sociais, que se distinguiam pela cor da pele: brancos, pardos (mulatos) e negros. A igreja de Santa Rita funcionou como matriz ainda nesta época, em substituição à Sé, que se encontrava em precário estado de conservação e incapacitada de atender a crescente população da cidade. Ao seu lado temos o antigo cemitério, parecendo uma capela, e a antiga cadeia pública de Paraty, que hoje sedia a Secretaria de Cultura, Turismo e Esportes do município e na igreja funciona um museu de arte sacra. O conjunto é tombado pelo IPHAN desde 1952.
Igreja de Nossa Senhora das Dores
A Igreja de Nossa Senhora das Dores foi erguida em 1800, por iniciativa de senhoras da aristocracia da cidade, de acordo com a divisão por raças, atendendo às mulheres brancas ricas da época. Até 1820 não se encontrava concluída, porém fora uma capela da moda no Brasil império. Atualmente é conhecida como Capela das Dores ou simplesmente “capelinha” e só abre para casamentos ou eventos importantes na cidade. Está localizada na beira do mar, entre as ruas Fresca e rua da Capela, onde na cheia da maré as águas refletem o casario formando uma bela imagem (chegamos uma semana depois da cheia, por este motivo o chão está desse jeito).
Igreja de Nossa Senhora do Rosário
A igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos e de São Benedito, em Paraty, foi erguida em 1725, pela irmandade de mesmo nome, integrada pelos negros na cidade, e reconstruída mais tarde, em 1755. Foi restaurada ainda, em 2002, com recursos do Ministério da Cultura e tem festividades no mês de novembro, com missa, procissão e festejos tradicionais com imagens dos santos. Era a única do Brasil colonial que não se localizava próxima ao mar, simbolizando que a igreja dos negros não deveria ser limpa pelas águas que inundam Paraty desde então, caracterizando o preconceito da época. ⠀
Igreja da Matriz
A Igreja Matriz de Nossa Senhora dos Remédios, segundo conta a tradição, foi erguida a partir de 1646 a pedido de Maria Jácome de Melo, que doou o terreno onde se construíra o novo povoado em Paraty. Este templo teria sido demolido e, em seu lugar, construído um novo, concluído apenas em 1873, com ajuda de Geralda Maria da Silva (que contamos em post anterior). Curioso é observar as suas torres inacabadas e o fundo da edificação por terminar; acredita-se que isso ocorreu, não só pela falta de recursos e mão de obra escrava, mas porque a igreja teria afundado e se inclinado para frente, devido à inconsistência do terreno onde foi construída. A Praça da Matriz, localizada bem em frente, antigamente era um cemitério. Acreditava-se que os mortos deviam ser enterrados próximo à igreja, pois assim estariam mais perto do céu.
Curiosidades da cidade
Você sabia que grande parte da urbanização de Paraty foi realizada por maçons? Tem-se certeza que, no século XVIII, a maioria das portas e janelas das casas de Paraty eram pintadas de azul, o chamado azul-hortênsia da maçonaria simbólica. Estes também deixaram grande influência na arquitetura dos casarões de dois andares, cujo andar superior servia como uma torre de vigia. E o simbolismo vai muito além, no traçado das ruas e colunas das casas, nos desenhos geométricos de muitas delas, mostrando que ali vivia um maçom, nas 33 quadras da cidade e nos abacaxis das fachadas, como símbolo de boas vindas e nobreza. Já tinha reparado esses detalhes?!
Outro sinal da presença maçônica são os três pilares de pedra lavrada, presentes na maioria das esquinas que, segundo diz o povo, foram colocados para representar o triangulo maçônico, trazendo novamente o número 3, de referência muito forte nesta cultura. Talvez isto explique as ruas “entortadas” de Paraty, desenhadas pelo arruador da época em que chegou a maçonaria, Antônio Fernandes da Silva, responsável pelo traçado de ruas, esquinas e praças. Diz-se que este traçado foi feito para evitar o vento encanado e distribuir igualmente o sol nas residências, mas para estudiosos ele também se tratava de uma estratégia militar, através da qual não se conseguia ver onde a rua ia dar, e todas as ruas muito parecidas serviam para que os inimigos ali se perdessem numa perseguição.
E as cheias de Paraty, você já presenciou? Uma semana antes da nossa viagem, aconteceu o fenômeno da maré cheia que invade a cidade de Paraty. Essa foto foi retirada do instagram @paratyoficial pois quando chegamos ela já havia baixado. As ruas de Paraty foram projetadas pensando nisso: à época, a sujeira das casas era jogada para fora e, assim, quando o mar invadisse, limparia tudo. Assim também os barcos menores, trazendo ouro e outras mercadorias, tinham o acesso facilitado. Com o calçamento “torto” e mais fundo no meio a água não chega a invadir as casas.
Onde ir
Museu Forte Defensor Perpétuo
O Museu Forte Defensor Perpétuo foi construído em 1703 e se localiza no morro ao norte próximo da cidade, quinze minutos de caminhada a partir do Centro Histórico de Paraty. Espalhados pelo jardim há oito canhões ingleses apontados para a baía, da qual se tem uma bela vista, além de enormes tachos de ferro no interior de onde ficava a casa de pólvora, alojamento dos soldados e cadeia do forte, que hoje é o Centro de Artes e Tradições de Paraty, com exposição permanente de artesanato caiçaras e objetos encontrados nas fazendas próximas. O Museu abre todos os dias (exceto segundas) e a visitação é gratuita, porém não é permitido filmar ou fotografar no interior. Vale a visita.
Rio Perequê-Açu e Praia do Pontal
⠀⠀⠀ ⠀O rio separa o centro histórico da região do Pontal, onde está localizada a praia do Pontal. Todo mundo em Paraty já passou por alguma pontezinha por cima dele. A Praia do Pontal é a mais próxima do centro e, por isso, tem águas calmas e quiosques. Boa para um passeio.
Praia do Jabaquara
Chegamos à praia do Jabaquara já com o tempo fechado, mas nada que tirasse a beleza deste lugar. O bairro do Jabaquara fica bem próximo também ao Centro, no caminho que leva ao Forte Defensor Perpétuo. As águas são calmas e há bastantes quiosques, além de tenda de caiaque e stand ou paddle para aluguel. No final da praia, o fundo torna-se mais lodoso, devido a uma grande área preservada de mangue. No Carnaval é onde acontece o famoso “bloco da lama”.
Rua do Fogo
A rua do Fogo é uma das poucas que conserva seu nome original em Paraty. Comunica um dos vértices do Largo de Santa Rita à rua Maria Jácome de Melo. Segundo nosso guia da charrete, ela ganhou esse nome porque “pegava fogo todo dia e toda noite” já que era o local onde as esposas que não encontravam os maridos em casa deveriam procurá-los . Daí também teria nascido o ditado do vigário da igreja de Sta Rita à época, hoje bem conhecido, que dizia “que o pecado mora ao lado” (a rua do Fogo se localiza bem ao lado da igreja).
Rua Dona Geralda
Prometi que ia contar mais sobre a Rua Dona Geralda, quem ficou curioso? Geralda Maria da Silva nasceu em Paraty, em 1807. Benemérita, herdou de seu pai grande fortuna, ajudando a terminar a construção da Igreja Matriz com estes recursos financeiros e, por este motivo, muito estimada na cidade. A lenda local atribui tal fortuna a tesouros de piratas. Dona Geralda foi a segunda mulher a ser mencionada na história, ainda no século XIX.
Onde comer e beber
Já na estrada tem dica pra vocês: vai pra Paraty ou algum lugar depois? Tem que parar na Toca do Pastel. É uma lanchonete que serve pasteis, obviamente, com uma vista incrível da Costa Verde!! Faça um pitstop, entra no clima, tá quase chegando!!
E dica boa é dica compartilhada! Desde que acompanhei a última viagem do casal fofo do instagram “Melhor com Você” fiquei de olho nos quitutes do Manuê como boa formiga que sou!! Anotei tudinho e, uma vez em Paraty, descobri que a lanchonete ficava muuuuito perto da nossa pousada. Ou seja, eu amei tanto, TANTO, que só não fui lá todos os dias porque não deu tempo. O Manuê serve lanches, sucos e doces maravilhosos, mas tem opções pra café da manhã e da tarde também! Pra gente qualquer hora era hora. Na primeira visita, o marido escolheu esse sanduíche de carne desfiada com cebola caramelizada acompanhado de um suco e eu pedi um dobrado de quatro queijos, que é tipo uma massinha de pão árabe, só que diferente rs. O bolo de churros sen-sa-ci-o-nal cheio de doce de leite e canela, que vem quentinho lá de dentro foi sobremesa. Da outra vez, fui para tomar um cafezinho e provamos o “merengue merengue” (um creme delicia intercalado com morangos e suspiros) e a paçoquinha (mesmo creme, com paçoca triturada e doce de leite). Imagina o sabor??!!! Mais que aprovado!!!
Mais uma dica de restaurante: essa é pra quem quer comer bem sem pagar muito. Lourival, o guia da charrete, nos indicou e fomos lá conhecer! O Camarão Para-Ty é uma casinha charmosa, numa rua atrás da rua que fica atrás da igreja Matriz, entendeu?! rs Entre aqueles pratos simples e deliciosos de praia, escolhemos a lula à dorê com fritas e arroz, mas tem pratos a partir de 19,90!
A Casa Coupê fica bem na Praça da Matriz, num lugar ótimo pra comer ou beber, tanto de dia quanto à noite!! Escolhemos o Super-Mamute acompanhado de batatas coupé (baby beef enorme empanado e as batatas são temperadas com alecrim e alho) e foi onde eu experimentei o drink Jorge Amado e o marido conheceu a cerveja Caborê. Atendimento nota dez e ambiente agradável com musiquinha!
E o que seria do Felipe se a gente viajasse e não tivesse uma cervejaria né?!⠀Em Paraty existe a Cervejaria Caborê desde 2006, na Rua Beira Rio, bem de frente pro Perequê-Açu. Descobrimos a localização no final da viagem e não deu tempo de visitar, mas eles fazem visita guiada às 17h, de quarta a sábado e tem aquele pubzinho esperto ali do lado pra você degustar.
O que fazer
Quem acompanhou nossa viagem pelos stories do Instagram, viu que Fizemos um passeio de charrete pelo centro histórico, de aproximadamente meia hora. Neste passeio, o rapaz que conduz a charrete vai nos mostrando e contando sobre a história e o casario da cidade. Mesmo pra quem já conhece, o passeio é bem legal, porque a gente fica sabendo um pouco mais sobre as curiosidades de lá. Embarcamos na Praça da Matriz, mesmo local onde ele nos deixou, e o passeio para o casal custou 40 reais.
Festival Da Cachaça
Com edições desde 1982, quando começou com o nome de Festival da Pinga e Produtos Típicos de Paraty, este ano o 36º Festival da Cachaça, Cultura e Sabores de Paraty aconteceu de quinta a domingo, 16 a 19 de agosto. Desta vez, o evento foi realizado em uma única tenda, no areal do Pontal e, como sempre, a entrada era gratuita. Estiveram presentes os quiosques dos alambiques tradicionais: Pedra Branca, Paratiana, Engenho D’Ouro, Coqueiro e Corisco, para compra e degustação da cachaça, além do palco com shows musicais gratuitos e quiosques gastronômicos. Com a proposta de valorizar a cultura local, no festival o visitante pode conhecer o que Paraty tem de melhor. São shows de reggae, MPB, samba, etc, todas as noites. A cidade fica bem cheia e, pra quem curte um agito, ainda tem blocos e festas particulares no fim de semana.
Festa Literária Internacional de Paraty
É um festival literário lançado em 2003 pela Fundação Casa Azul, que se realiza no mês de julho na cidade.⠀A FLIP é considerada um dos maiores eventos deste tipo, no Brasil e na América do Sul. Além de palestras, acontecem discussões, oficinas literárias e eventos paralelos para crianças (a Flipinha) e jovens (a Flipzona). Seu sucesso se deve, principalmente, ao envolvimento e participação ativa de autores inclusive internacionais. A Pousada da Marquesa e a Pousada do Ouro são duas das pousadas oficiais da FLIP, onde se hospedam escritores nacionais e internacionais.
Onde ficamos
Por último, mas não menos importante, nos hospedamos na Pousada das Pedras, que nos atendeu super bem, apesar de estar em obras. Como fomos no meio da semana, acredito que estavam ainda se preparando para receber os hóspedes em peso para o Festival da Cachaça. A pousada oferece café da manhã, tem ar, frigobar, piscina, estacionamento, bar interno, mesa de sinuca e muitos locais para relaxar no jardim. Fica bem em frente à rodoviária e há uns 5 minutos andando do centro histórico. A dona foi super atenciosa com nosso bebê e nos recomendou o passeio de charrete que fizemos com ele. A comidinha também foi facilmente esquentada e as mamadeiras lavadas na cozinha.